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Pesquisa desde a infância
Autor: Jornal Pioneiro - 27/08/2012

Caxias do Sul – Ver pequenos pesquisadores partilhando seus estudos num espaço universitário, ao lado de professores, mestres e doutores, aponta para um horizonte mais promissor no campo da educação. Essa cena pôde ser conferida no último sábado, no Bloco E da Universidade de Caxias do Sul (UCS). Diversos trabalhos foram socializados no 12º Seminário Escola e Pesquisa: Um Encontro Possível.

As atividades resultam do curso de extensão de mesmo nome da UCS, que estimula o uso da pesquisa de opinião como recurso pedagógico e considera a pesquisa em sala de aula como princípio educativo. A iniciativa faz parte do Projeto Nossa Escola Pesquisa Sua Opinião (Nepso). Além de assistir à troca de experiências com participantes de Estados como Paraná e Santa Catarina, e de outras nações, como Portugal, é significante saber que dezenas de alunos foram a campo, levantaram situações-problema e se debruçaram sobre questionários, estatísticas e teorias.

No sábado, uma dupla de pesquisadores portugueses chamou a atenção. O professor Paulo Costa, 45 anos (foto maior), e o estudante Gonçalo Manuel Ferreira Veloso (foto acima), 13, do 8º ano, junto com os colegas de turma, venceram o Prêmio Nepso Escola – Opinião, com o estudo “A crise econômica na perspectiva das crianças e jovens”. A vinda de Costa e Gonçalo ao Brasil é parte da premiação. Eles apresentaram os resultados aos brasileiros. A pesquisa foi feita com mais de 400 alunos de cinco instituições de ensino do Agrupamento de Escolas de Real, em Braga.

Segundo Gonçalo, 20% das crianças questionadas já sentem em casa e no lazer o impacto direto da crise econômica vivida por Portugal, que passa por aumentos de impostos e cortes nos serviços sociais. Desde 2011, o país está sob duras condições de empréstimo internacional.

Coordenador da pesquisa e professor do Instituto de Educação da Universidade do Minho, Paulo Costa também conversou com o Pioneiro:

Pioneiro: As perguntas foram adequadas ao público infanto-juvenil?

Costa: Quisemos ver o que as crianças pensavam sobre a crise. Observamos isso. Um dado que nos preocupou foi a resposta sobre como classificavam o país. Setenta por cento disseram mal e muito mal. Se por um lado, quisemos abordar a crise como ameaça ao bem-estar, por outro queremos focá-la como oportunidade de mudar comportamentos. Abordamos a questão da poupança. Depois, passamos a trabalhar para gerir a mesada.

Pioneiro: A pesquisa sugeriu alternativas de economia?

Costa: Uma parte foi a pesquisa, para saber o que as pessoas pensavam. Diante das dificuldades apontadas, criamos uma proposta sobre o que fazer com esse estudo. Aí, pensamos: é preciso poupar, mas como? Então, levantamos uma proposta de economia de água e luz, sugerindo a redução de 15% dos gastos na escola. Se fizermos isso num espaço público, diminuiremos a despesa pública, o que é altamente pedagógico e sensibiliza alunos para além do aspecto financeiro, envolvendo também o ecológico.

Pioneiro: Na prática, como o senhor conduziu a turma?

Costa: Tenho um grupo de 28 alunos do 8º ano, uma turma que acompanho, pois sou o diretor responsável. Tenho atuação estreita com os pais e faço reuniões mensais com eles desde o 5º ano. Dentro dos 28, há seis grupos cooperativos, com líderes. Os alunos é que aplicaram os questionários e fizeram as entrevistas.

Pioneiro: Qual conclusão mais lhe impressionou?

Costa: O fato da criança estar envolvida na temática da crise. As mais novas não deveriam estar preocupadas com essas questões, que são nossas. Teriam de ter seu desenvolvimento normal, investir em sua formação e brincar muito. O estudo mostra que os jovens mais velhos têm uma visão menos otimista que as crianças. Podemos trabalhar com eles a ideia de olhar para a crise no sentido de oportunidade e pensar num crescimento coletivo. Se o país está passando por maus momentos, não basta culpar só os políticos, mas termos a consciência de que também contribuímos para isso. A fase em que estamos não é boa, mas vamos dar a volta e nos empenhar mais. É a mensagem do estudo concluído em julho.

VANIA MARTA ESPEIORIN

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