O grande dia aproximava-se e as expetativas eram muitas. Apesar das pouquíssimas horas de sono e do trabalho adicional que tinha sido necessário antes da viagem, para que tudo ficasse organizado na escola, foi com verdadeiro entusiasmo que enfrentámos o frio das primeiras horas da madrugada rumo ao primeiro avião (Faro-Lisboa) que nos levaria à grande aventura, 10 horas de avião para aterrarmos em São Paulo, o destino tão esperado.
A viagem foi longa e parecia nunca mais terminar mas tudo isso foi esquecido assim que saímos do avião e inspirámos a primeira lufada de ar no hemisfério sul.
É com alegria que podemos dizer que qualquer expetativa que pudéssemos ter ficou muito aquém de tudo o que vivemos e que a experiência que tivemos conseguiu ultrapassar largamente todas as interrogações que tínhamos antes do início da viagem, sendo que, as recordações que trouxemos (experiências vividas, registos fotográficos e documentais, memórias das pessoas que conhecemos, o carinho com que nos receberam e de todos os locais que visitámos) irão perdurar na nossa vida como um momento único de partilha do conhecimento entre pessoas, umas que se cruzaram connosco num breve momento na vida e outras que provavelmente permanecerão sempre nelas.
Mesmo para quem está habituado a viajar, e não me refiro àquelas viagens em que se vai para um hotel muito giro e não se sai de lá mas sim a viagens em que vamos conhecer as pessoas e a sua cultura e forma de estar na vida, esta foi uma experiência única que dificilmente se poderá repetir, uma vez que, fomos maravilhosamente recebidos por habitantes de São Paulo que nos deram a conhecer um lado da cidade que não seria possível se fossemos simples turistas.
Penso que é muito difícil colocar em palavras tudo aquilo que vivemos. Apesar de ter sido um curto espaço de tempo, foi muito intenso em informação, conhecimentos e relações humanas.
Talvez a melhor forma de exprimir o sentimento que remanesce depois da viagem seja sugerir que o prémio para o melhor trabalho NEPSO seja unicamente esta viagem, para mais que duas pessoas, uma vez que a experiência que se tem não pode ser repetida de nenhuma outra forma e não há dinheiro que a possa comprar. E se a experiência vivida lá servir para mudar a forma de estar e de olhar o mundo, nem que seja só das pessoas que tiveram a oportunidade de fazer a viagem, já é uma mais-valia imensa que pode ser ampliada se além disso, for possível influenciar outros, ao partilhar com eles o que vivemos, a dar mais valor ao que temos e a repensar a sua forma de estar no mundo, nem que seja em pequenas ações do dia-a-dia.
Como reproduzir em palavras os momentos passados com a Ana Lúcia e o marido, na sua casa, enquanto comíamos um fantástico churrasco e conversávamos sobre os mais diversos assuntos? Ou a sensação ao sair do hotel e ouvir o zumbido constante dos carros e das suas buzinadelas no centro de São Paulo, que parecia fazer vibrar todas as partículas do nosso ser? E o choque ao ver o verdadeiro mar de gente que utiliza o metro de São Paulo? Como descrever a doce delicadeza da Marilse, a fabulosa energia do Renato, a simpatia e disponibilidade da Ana Luísa, a atenção e dedicação da Laurineide, entre muitos outros que nos receberam de braços abertos. Muitas foram as pessoas que nos tocaram e os momentos que nos impressionaram e mencioná-los a todos seria uma tarefa morosa e que para quem não os viveu poderia tornar-se entediante. Fica porem a certeza que todos eles foram marcantes e inesquecíveis podendo melhorar-nos como pessoas.
Não querendo diminuir a importância de nenhum dos momentos vividos e das pessoas conhecidas, creio que o momento alto da nossa estadia terá sido presenciar, durante o seminário, a alegria, o orgulho, o interesse e o entusiasmo com que os alunos de todas as faixas etárias apresentavam as suas pesquisas e se interessavam pelas pesquisas dos outros grupos. E tudo isto, sem aspirarem a nenhum prémio final e com condições de trabalho de alunos e professores bem mais difíceis que as nossas. Se fosse possível reproduzir em Portugal aquele seminário, nem que fosse com uma décima parte do entusiasmo, partilha e interesse, seria "show de bola"!
Por estranho que pareça, apesar das condições de trabalho serem mais difíceis e dos meios à disposição estarem muito abaixo daqueles existentes na grande maioria das escolas portuguesas, apercebemo-nos de uma entrega ao projeto, à investigação, à pesquisa, por parte dos alunos, com uma paixão e entusiasmo que nos parece difícil de obter em Portugal. Será que do desenvolvimento económico, social e tecnológico de um país advém uma maior apatia e desinteresse por parte das pessoas em geral e dos alunos em particular, para aquilo que é o essencial e a base do bem-estar cívico da comunidade? Aqui fica um possível tema para um futuro estudo de opinião.