Ao pensarmos em educação a primeira palavra que nos vem dentre tantas outras é o diálogo.

“...uma das bonitezas de nossa maneira de estar no mundo e com o mundo, como seres históricos, é a capacidade de, intervindo no mundo, conhecer o mundo. Mas, históricos como nós, o nosso conhecimento do mundo tem historicidade”. Freire (2002)Refletindo neste diálogo com o mundo, com a nossa história, com a nossa educação encontra-se o curso Nossa Escola Pesquisa Sua Opinião, onde proporcionou a nós pesquisadores da E.M.E.I.F Profª Therezinha P.de L.Muzel a oportunidade de poder participar com o tema Abrigo de Crianças.

Sabe-se que o Estatuto da Criança e do Adolescente, prioriza o acolhimento de crianças e adolescentes que estejam em risco pessoal e social em instituições; que o acolhimento deve ser provisório, visando sempre o retorno da criança à sua família de origem.

 As crianças e adolescentes têm o direito de manter os vínculos com suas famílias, mas e quando essas crianças não tem família para manter vínculos? O que acontece? Quem vai visitá-las? Tem alguém que olhe por elas?

Algumas retornam a suas famílias e outras permanecem abrigadas por muito tempo ou por tempo indeterminado.

Sensibilizados com esta situação, os alunos do terceiro ano da E.M.E.I.F Profª Therezinha P. de L. Muzel, decidiram realizar sua pesquisa dentro do contexto do Curso Nossa Escola Pesquisa Sua Opinião; um estudo que tinha como forma a pesquisa de opinião, com o objetivo de verificar, investigar e conhecer as opiniões dos entrevistados sobre o por que de crianças morarem em um abrigo.

O projeto foi uma inovação na Unidade Escolar, já que nunca houve, na escola, um projeto tão audacioso envolvendo alunos tão pequenos.

No início tivemos alguns enfrentamentos, pois o tema escolhido pelos educandos era de certa complexidade. Então, sentimos a necessidade de buscar ajuda de outros professores e a colaboração de toda a Unidade Escolar.

Percebemos que a aprendizagem é uma ação de mão dupla, onde sozinhos fica mais difícil de alcançar as respostas dos questionamentos que foram levantados pelos alunos.

Argumentações que são significativas a eles foram levantadas, e ao buscar respostas a estas, os alunos demonstraram certo descontentamento. Aprenderam a lidar com frustrações e perceberam que a solidariedade e amor ao próximo andam juntos.

Notou-se um grande envolvimento dos pesquisadores, mostraram que mesmo sendo tão pequenos são capazes de fazer grandes coisas, argumentar e questionar sobre o porquê de ter tantas crianças em um abrigo e qual o motivo de eles terem ido parar lá.

Realizaram-se várias discussões, diferentes opiniões foram apresentadas e os pesquisadores aprenderam a respeitá-las, mesmo não concordando com estas.

Levantaram-se dados e tabulações foram realizadas, perceberam que alguns dos entrevistados ainda selecionam pessoas devido a sua cor, idade e sexo. Outro enfrentamento surgiu, a mentira, “... falam pra gente que é criança não mentir, mas esses adultos mentem e nem disfarçam”, fala de um pesquisador. Volta-se ao tema, respeitar a opinião do próximo, mesmo entendendo as entre linhas de sua opinião.

Notou-se que nem sempre o que desejamos pode acontecer, percebemos que o cotidiano de um abrigo é cheio de acontecimentos, de diferentes histórias e sentimentos que “mexeram” com os pesquisadores.

Juntos aprenderam que toda criança e adolescente só querem carinho, amor, dedicação, um lar e uma família, e o desejo de crianças abrigadas não é diferente, só que, além de tudo isso, elas precisam de um olhar diferenciado.

Os pesquisadores aprenderam que no trabalho, na palavra, na ação e na reflexão se constrói coletivamente o conhecimento e assim “grandes” homens se tornarão.“Não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação-reflexão”. (Paulo Freire)