O projeto de investigação consistiu em uma pesquisa de opinião que objetivou investigar a história da música brasileira das décadas de 1960, 1970 e 1980 a partir das lembranças, das opiniões e do gosto musical das pessoas entrevistadas.
A pesquisa foi protagonizada por quatro estudantes do 2º ciclo do Centro Pedagógico da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), sendo que dois desses estudantes receberam bolsa do CNPq (Iniciação Científica Junior) ao longo de todo o ano de 2014. O trabalho de pesquisa era realizado todas as segundas-feiras, de 13h40 min às 15h10 min. Os estudantes registraram as etapas da pesquisa em um diário de bordo feito diretamente no UCA (computador portátil da escola).
O tema da pesquisa foi escolhido pelos estudantes, inicialmente sem uma formulação precisa: havia apenas o desejo de estudar “sobre a música na vida das pessoas”. Com isso, o grupo elaborou um roteiro de entrevista aberta para pessoas nascidas em diferentes décadas, com questões referentes às músicas do período em que elas eram jovens e também às suas preferências musicais da atualidade.
Essas questões remetiam ao contexto histórico e cultural do Brasil e às experiências pessoais com a música. Foram entrevistadas 11 pessoas e, a partir da experiência com essas entrevistas, os estudantes decidiram estudar a história da música nas décadas de 1960, 1970 e 1980. Com isso, eles se dedicaram ao estudo de letras de músicas, reportagens, documentários e videoclipes referentes a esse período histórico, com ênfase nos aspectos culturais das diferentes épocas estudadas: décadas de 1960 e 1970, de um lado; década de 1980 de outro.
Ao longo desse processo procurei levar os estudantes a questionarem se e como os elementos da história da música brasileira estudados por eles se refletiriam nas lembranças, nas opiniões e/ou no gosto musical das pessoas que seriam entrevistadas. Com isso, eu pretendia que os alunos pudessem compreender a história da música como um processo dinâmico, em que as vozes – e os ouvidos – das pessoas pudessem ser tomadas como referência para a análise crítica do cenário musical brasileiro daqueles períodos.
Após a qualificação do tema, eles se dedicaram à elaboração de um pequeno questionário para que pudessem ir a campo levantar dados sobre as músicas desses dois períodos, na perspectiva das histórias de vida e memórias das outras 39 pessoas que foram entrevistadas. Esse questionário continha questões abertas e essa foi a “novidade” do trabalho com o NEPSO neste ano (para mim e para os alunos). Os dados foram digitados em tabelas e, para analisá-los, fizemos várias leituras das respostas, elaboramos categorias e construímos novas tabelas com base nas categorias criadas.
Com isso foi possível também construir gráficos sobre as respostas encontradas. A hipótese que os alunos formularam antes de fazer as entrevistas foi de que a crítica política e social presente nas músicas das décadas estudadas seriam aspectos muito apontados por grande parte das pessoas. Mas isso não se confirmou. Em nossa pesquisa, a história da música brasileira se revelou em momentos marcantes da vida das pessoas relacionados principalmente à sua memória afetiva (amor, amizade e fases da vida, como a infância e a adolescência).
A vinculação das músicas com a dança ou com o ritmo bem marcado, como ocorre com a Jovem Guarda e com o Rock´n roll, também foram motivos apontados, tanto em relação às ocasiões marcantes da vida, quanto em relação aos estilos com os quais as pessoas mais se identificaram. Destacou-se ainda a importância que as pessoas deram à qualidade das letras das músicas como justificativa para sua identificação com as mesmas.
Para a divulgação dos resultados na II FEBRAT (Feira Brasileira dos Colégios de Aplicação e Escolas Técnicas), que ocorreu em outubro, os estudantes fizeram uma apresentação interativa com o público e puderam verificar como as opiniões de diferentes públicos questionavam ou corroboravam os resultados da pesquisa. Eles se apropriaram muito bem de todo o processo da pesquisa, apresentavam o pôster com muita confiança, acabaram assim por receber premiação na categoria Ensino Fundamental – Ciências Humanas.
Avalio que o trabalho da iniciação científica a partir da metodologia NEPSO pode render bons frutos para a aprendizagem dos estudantes e, por isso, pretendo continuar me dedicando à orientação de bolsistas, especialmente voltado para o aperfeiçoamento do trabalho com a elaboração de categorias para análise de questões abertas.